A série é uma ficção bilíngue, Libras e português e é a primeira feita no Brasil. Ela retrata a realidade dos desafios que jovens surdos brasileiros enfrentam no dia a dia com relacionamentos, âmbitos profissionais e familiares, e como a Libras é importante para eles que estão envolvidos em um universo visual.
Crisálida nos mostra quantos estereótipos existem acerca dos surtos e o quanto nos falta aprender sobre. Um primeiro ponto a destacar é o fato da Libras ser sim diferente do português e diferente da língua de sinais de outros países. Vemos esse ponto quando comentam a viagem de Gustavo (Harry Adams) para os Estados Unidos e se foi difícil adaptar à outra língua, muitas pessoas ainda pensam que existe uma única língua de sinais em todo o mundo e não é bem assim. Há diferenciações entre as línguas de sinais, como temos entre o português e outras línguas.
Um preconceito que deve ser quebrado é de que surdo consequentemente deve ser mudo. Os surdos possuem sua própria língua que é completa e possuem algumas dificuldades de entender português. Vemos na série que em questões familiares tentam adaptar o surdo para que ele ouça ou se comunique com o português, mas será que é isso que ele precisa? Será que é isso que ele quer? Por mais que tenha algumas dificuldades, seu universo é tão bom que quem precisa se adaptar somos nós.
A série mostra as dificuldades de relacionamento e vivência entre surdo e ouvinte. A questão de segurança pública, de como até mesmo na segurança de pequenos parques deveriam ter mais preparo, como retratado no caso da mãe, que ao se perder da filha tem dificuldade em pedir ajuda, ainda mais em desespero. Outra questão são as cenas do advogado. Sabemos que muitos profissionais são sérios e honestos, mas também sabemos que existe o contrário, quantos não se beneficiaram pelo surdo não entender e tentar fazer o que fosse melhor para o seu lado.
A produção nos faz repensar em muitas coisas e de como é importante pensarmos como está sendo tudo isso no Brasil, o fato de hospitais e outros centros não terem preparo ou a própria população que deveria saber o básico. No insta deles @seriecrisalida, eles comentam até sobre as dificuldades dos intérpretes para fazer toda adaptação para as filmagens.
A série não é apenas sobre dificuldades, mas sim retratar que surdos VIVEM, eles AMAM, SENTEM e SÃO, como nós. A empatia entre eles, de como se ajudam dá uma lição em todos nós.
“já dizia o poeta, que a amizade é quando o silêncio a dois não incomoda. Por isso nos reunimos hoje para celebrar a amizade e o silêncio. Com pessoas que se expressam por meio de sinais e dão seu recado de esperança e vida.” – Crisálida
Experiencia pessoal – Venho de uma cidade pequena e não havia conhecido alguém surdo antes. Agora moro em Floripa e estudo na UFSC, o que me dá um orgulho dessa série! Me identifiquei na série quando dois personagens tiveram que se comunicar escrevendo no celular. Minha primeira experiência com uma pessoa surda, foi na rua e conversamos pelo celular. Naquele momento me senti tão incapaz, eu queria conversar com ele na língua dele e não sabia, aquilo me frustrou muito e vi que já tinha perdido tempo demais sem aprender Libras. Resultado: me matriculei em uma disciplina de Libras e foi sensacional, é realmente outro mundo e você se emociona com as histórias, mas também vê que a realidade deles no Brasil e em muitos outros lugares merece ser debatida. Há muito despreparo em centro de saúde, informação, educação e segurança em relação à comunidade surda, e precisamos tratá-los igualmente para que os ambientes sejam adequados à todos.
Ter o contato com a língua me mudou, é transformador.
Crisálida está disponível na Netflix desde 1º de Maio e também já foi exibida pela TV Cultura.
Se joga no ar e flutua, brother!