13 Reasons Why: Crítica da 4ª temporada

Atenção: esta matéria trata de conteúdos sensíveis como depressão e suicídio. Reforçamos a importância de contatar profissionais de saúde mental e/ou o CVV – Centro de Valorização à Vida pelo número 188 ou via chat.

Confesso que foi a temporada que me causou mais aflição. Assistir ’13 Reasons Why’ não é fácil. Desde  cena da segunda temporada com Tyler sendo estuprado eu parei para pensar se realmente deveria continuar assistindo. Após o fim da segunda temporada, dei um hiatus de 2 anos e antes do lançamento da quarta, assisti a penúltima temporada e me surpreendi. O desprendimento da história de Hannah acredito que foi feito de uma forma legal para que a série continuasse independente, porém, foram temas realmente pesados abordados e não é como outra série adolescente que mostra mortes, instabilidade emocional ou probemas com drogas, era tudo de uma vez. Não sei você, mas eu assisti a série com a mesma sensação de medo que tive em 2018 com a cena do Tyler. É pesada, mesmo sabendo que são cenas que acontecem na vida real, infelizmente.

A quarta temporada, para mim, foi uma das mais assustadoras e emblemáticas. Ver o Clay em seu pior estado me causava aflição durante todo o tempo que assisti e confesso que os episódios tão longos com cenas tão pesadas seguidas uma atrás da outra me fizeram fazer pausas para assistir algo mais leve durante os intervalos. Realmente é uma temporada que mexe muito com o emocional de quem assiste e por isso entendo que uma pessoa que já esteja com uma certa instabilidade emocional deve esperar um pouco para ver a trama. Não estou dizendo que a série é ruim, pelo contrário, eu achei a temporada boa, mas intensa. Destaque para o elenco que deu um show de atuação, sem dúvidas.

Jessica e Justin em ’13 Reasons Why’ – Foto: Netflix

Brandon Flynn, o Justin, e Alisha Boe, a Jessica com certeza creceram tanto seus personagens durante esses quatro anos da série que não reconheci aqueles personagens da primeira temporada agora. Os dois deram um show de atuação. Desde a terceira temporada, Justin passou a ter seus dramas cotidianos mostrados mais a fundo na trama e passamos a conhecê-lo mais, porém, nesta temporada eu não esperava o seu desfecho como foi, mas acredito que tenha terminado de uma forma aceitável. Jessica, tentando sempre superar seus medos e traumas, encontrou um abrigo em si mesmo e no Justin nessas últimas duas temporadas e foi lindo ver o desfecho e o rumo que os dois tomaram.

Confesso que algumas tramas que foram inseridas nesta temporada, como as ligações que Clay recebia, não fizeram sentido quando a desocoberta veio à tona. Desde os primeiros episódios conseguimos sentir a dor de Clay e as ligações só fizeram isso piorar para depois ter um desfecho tão ruim como teve. Achei desnecessário um desfecho tão bobo e muitas vezes me pareceu que isso era feito de propósito e que pequenas tramas eram colocadas apenas para causar alguma ‘coisa’ no expectador para continuar mantendo a sensação de aflição/angústia.

O ponto que gostaria de ressaltar é como a série por vezes tratou de forma tão pesada assuntos que sabemos que acontecem do nosso lado e não nos ligamos. Jovens se automutilando, ansiedade, superação, medos, depressão. Com certeza são assuntos que devem ser mais debatidos nos filmes e séries, porém, talvez não da maneira que foram representadas. Mas pela visibilidade que a série tomou, a quarta temporada com certeza foi uma das que realmente conseguiu conversar com quem assistia. Os debates sobre temas como drogas, superação, terapia, vícios e como os personagens lidavam com isso sempre se voltando para o diálogo foi uma boa maneira de mostrar soluções. Talvez essa seja a maior lição que tiramos dessa trama tão pesada. Conversar e procurar ajuda sempre foi a maneira que eles conseguiram superar seus maiores medos e essa temporada deixou isso bem claro. Ponto positivo.

Muito se critica sobre essa série e eu mesmo pensei se ela realmente deveria continuar depois da primeira temporada quando contou toda a história dos “13 porquês” presentes no livro que deu origem a série. Minha resposta é: sim, foi bom ela ter continuado. Confesso que muitas cenas me chocaram, principalmente na quarta temporada com o desfecho da história do Clay e ao mesmo tempo eu me emocionei e entendi a importância de sentir a dor e entender que dar tempo ao tempo também é uma forma de continuar. Estamos todos os dias passando por momentos iguais aos alunos da Liberty School, talvez não com a mesma intensidade, mas nos cobramos tanto por um futuro perfeito e sem erros que acabamos não vivendo os momentos. Para mim, a série tratou disso também.

Chorar durante todas as temporadas foi inevitável. A dor que eles sentiam era pesada e com certeza te trouxe um sentimento de angústia também. Como Clay disse, sobreviver ao ensino médio não é uma tarefa fácil e hoje na faculdade, eu entendo. O ensino médio é onde encontramos nossos maiores medos, onde somos julgados, onde decidimos o que vamos fazer durante toda a nossa vida. Todo esse turbilhão de emoções com menos de 18 anos. Fomos ensinados a nos mantermos fortes e que tudo vai passar ou melhorar, mas entender que momentos ruins acontecem e que aprendemos com eles é uma coisa que também me ajuda a entender meus objetivos dia a dia. Ansiedade e depressão levam o ser humano a sofrer de uma maneira insuportável e realmente parece ser o século dessa doença.

Falar que deve-se procurar um profissional é fácil, mas difícil é realmente procurar. Temos medo de julgamento, medo das cobranças e de tudo que a vida pode nos apresentar. Vivemos sempre no futuro e parece que nunca está bom o momento presente ou o que temos. Pequenos momentos passam a fazer sentido com o tempo, mas é louco como a sede por sempre querer mais toma conta de nossas vidas. Aprendi também que tudo acontece quando tem que acontecer e tirar um tempo para você é o que te faz continuar muitas vezes. Converse com qualquer pessoa que confie, abra seu coração e procure ajuda, se precisar. Não é brincadeira, você viu a série e sabe. Pessoas morrem todos os dias vítimas desses motivos tratados na trama e perder a vida dessa maneira é muito triste. Há tantas coisas que você não conhece ainda, tantas experiências que não viveu. Viva e descubra o que te faz seguir em frente.

Se estiver se sentindo bem mentalmente, assista à série, se não, talvez não seja o momento de ver. Converse antes com pessoas que você confia.

Lembre-se, se não se sentir confortável em conversar com conhecidos, ligue para o número 188 ou entre no chat do Centro de Valorização à Vida. Tudo é gratuito e pode ser feito de forma anônima. Você não precisa passar por isso sozinho. Tem pessoas querendo te ouvir e te ajudar.

 

 

Recomendamos 👇