Se você acha que Black Mirror é louco, eu concordo contigo. Se você me falar que The Midnight Gospel é muito louco, eu também concordo contigo. The Midnight Gospel é uma série animada, porém com restrição de idade, e ao mesmo tempo insana e um retrato de nosso tempo.
A série foi criada por Pendleton Ward, criador também de Hora da Aventura, junto com o comediante Duncan Trussell conhecido pelo seu podcast ‘Duncan Trussell Family Hour’. A história gira em torno de Clancy e sua máquina simuladora de realidades multiverso. Clancy utiliza avatares e o simulador para entrevistar seres de outros planetas para o seu Spacecast. Clancy é um tanto carismático e muito mente aberta, aborda com cada um dos entrevistados uma variedade de assuntos significativos enquanto a realidade está desmoronando em torno deles.
Ele é enviado para a outra realidade parecendo um meteoro, como pode ver na imagem ao lado. Porém, sempre com a forma do avatar escolhido/criado por ele ou sua máquina (que geralmente está com algum defeito).
Os planetas em que Clancy vai parar geralmente estão em caos, passando por um apocalipse e etc, ou outros como diz o simulador “foram destruídos por erros operacionais”. Às vezes fica tudo muito confuso e é por isso talvez que a série seja tão louca, pois na maior parte do tempo o que está sendo falado não tem nada a ver com o que está acontecendo na tela, mas em outros momentos tem tudo a ver. Os temas abordados, apesar das cenas apocalípticas, são muito profundos e críticos (para muitos uma viagem também), e a mistura dificulta um pouco a interpretação.
Muitas pessoas que assistiram recomendam só ouvir os episódios para pensar a fundo e realmente entender o que está sendo falado, e depois colocar de novo e acompanhar com a animação. Cada frame e assunto são pensados e projetados de modo que cause uma mistura de dúvida, alegria, medo, tristeza, amor e muita mas muita estranheza também.
Ao mesmo tempo que tudo é absurdo, tem também coisas divertidas. Trussell argumenta que o objetivo da vida é procurar significado, não importa se o encontramos ou não, e é por isso que Clancy está tão determinado a explorar o multiverso com uma intenção tão ousada.
Os temas das entrevistas são bastante densos, que vão de espiritualidade, morte e drogas até meditação, amor de mãe e crescimento, e o mais louco de tudo isso é que são baseados em conversas reais. As conversas são trechos de Trussell com seus convidados de seu podcast, apenas falas complementares, essenciais para criarem uma coerência na narrativa, foram gravadas separadamente.
Além dessas conversas eu foquei muito no que estava ocorrendo nos planetas. A máquina fala que estes estão passando por erros operacionais, o que nos leva questionar muitas de nossas ações e atitudes e também como estamos ferindo o planeta em que vivemos. Apesar de possuir imagens muito psicodélicas, há muito que pode ser absorvido para nossas questões sociais e morais. Confesso que achei muita coisa confusa e que foi necessário voltar os episódios para tentar entender de novo tudo que estava acontecendo.
Muita gente gostou, muita gente detestou e o que eu achei no final ainda está em outro planeta porque eu realmente não sei.
Vai pro espaço.
Se joguem no ar e flutuem (essa frase faz sentido agora).