Baseada em uma HQ criada por Frank Miller e Tom Wheeler, e que já foi best-seller do New York Times, Cursed é uma re-imaginação da lenda arturiana, contada pelos olhos de Nimue, uma jovem mulher com um presente misterioso que está destinado a se tornar a poderosa Dama do Lago. Após eventos trágicos ela embarca em uma missão para encontrar Merlin e entregar uma poderosa espada antiga. Ao longo de sua jornada, Nimue se tornará um símbolo de coragem e rebelião contra os terríveis Paladinos Vermelhos e seu cúmplice rei Uther.
Confessando, se você espera algo como A Espada era a Lei, Excalibur ou até mesmo Rei Arthur: a lenda da espada, já te aviso: não espere nada parecido! Mas bem, vamos a alguns pontos…
1 – Heterogeneidade e temas
Uma coisa que é inegável é como eles deram oportunidade para identificação nos personagens. Sem contar de termos uma mulher protagonista, dando um novo olhar na lenda arturiana, podendo ver a Excalibur por outras perspectivas foi bem legal. Saiu do clássico foco apenas em Arthur e Merlim, Athur e Merlim, Arthur e Merlim.
Poder conhecer mais um mundo mágico com a lenda, ver a Morgana (que muitos filmes nem lembram dela); um outro Merlim, bêbado, sem poderes, com falhas; um Arthur negro (que muitos acharam um problema, eu amei!) com uma irmã que viria a se tornar a grande Morgana; e até mesmo Lancelot, de um jeito que fiquei chocada ao descobrir quem era, e vários outros personagens não apenas do mundo mágico, mas até misturados com a cultura nórdica que demonstram, força, determinação e coragem, entre outras qualidades ao longo dos episódios.
Além do amadurecimento de Nimue ser um dos pontos principais, e vemos como ela vai se desenvolvendo a partir de cada obstáculo durante os episódios, temos temas que já estamos acostumados mas que se mostram importantes. O terror religioso sempre regido por pessoas que se acham donas do mundo e da verdade, sendo que são movidas a suas próprias convicções; liderar em meio ao caos, ter força e coragem além de fazer o melhor a quem te segue, pessoas que ao estarem no poder fazem coisas absurdas visando seu próprio bem, e ainda percebemos temas que são discutidos desde a idade média até nos dias atuais mostrando que para muitas coisas ainda não evoluímos.
2 – Ambientação
Acho que uma das coisas que mais acertaram foram nos locais para fazer as gravações. Tem muitas paisagens lindas, com lugares que criam a vibe perfeita dos tempos medievais. Mas apenas a paisagem não mantém a qualidade sozinha, os figurinos, objetos e alguns acessórios, o mundo da fantasia, a maquiagem dos outros seres místicos foram importantíssimos para tornar isso um ponto positivo.
Gostei do fato dos figurinos não serem coisas absurdas mesmo em questão das fadas, pois em muitas obras cinematográficas vejo colocando tanto glitter e cores em panos que nem existiriam na época, e por mais que tenha essa questão da fantasia achei legal não exagerarem pois tem momentos muito sombrios que não combinariam com todo o brilho. Os designs das roupas também estão bem adequados com o que sabemos um pouco da época medieval, foi na medida.
Muitos efeitos do mundo da fantasia deram uma boa experiência de visualização, no comecinho mesmo temos efeitos bons sobre um mundo surreal, mas acabou deixando a desejar em outras cenas.
3 – CGI e cenas de lutas
Penso que pode ter sido esse um dos motivos mais frustrantes durante a série. Por mais que no começo do primeiro episódio ter tido cenas impressionantes, no final do mesmo, tivemos acho que uma das piores cenas de CGI. Quando Nimue vai “lutar” com os lobos parece que um dos lobos é um GIF, parecendo uma animação repetida, sem contar as próprias características dos lobos foi muito forçado. Eu não sou fã de Crepúsculo não, mas o que lembro do Jacob versão lobo, daria para ensinar um pouco aqui.
Outro ponto seriam as cenas de luta, que se me permitem dizer, mal ensaiadas. Nos quadrinhos Cursed é repleta de cenas violentas e sangrentas (com boa dose de cenas de tortura), e sei que não podemos cobrar tudo como se fosse um Gladiador, Vikings, Game of Throne e até mesmo The Last Kingdom (que comentei aqui um pouco sobre as cenas de lutas da última temporada). Essa série é mais focado na magia e tudo mais, mas como temos bastante cenas de lutas, ou guerra, acho que ficou um pouco desleixado essa parte, até porque dona Netflix conseguiu conciliar em The Witcher muito bem.
4 – Desenrolar da história
Não podemos negar que essa série tem uma riqueza de material de origem disponível, além da HQ que se basearam tinham diversos elementos disponíveis em todas as obras já feitas sobre o assunto. A ideia aqui é fazer diferente e mostrar outra perspectiva, o outro lado da história, porém, o que acontece é um salto de tempo e local muitas vezes irritante, adulterando precisões histórias e sempre sendo resgatados pela natureza fantasiosa.
O que leva esse incômodo de salto no tempo é que muitos personagens que teriam histórias e participações incríveis e relevantes, se perdem no meio de toda informação que querem passar. Exemplos seriam como Igraine ter se tornado Morgana, dela ter matada a The Widow num estalar de dedos praticamente; ou o fato de Lancelot ser na verdade feérico e ter se tornado o Monge Choroso; até como Merlin “fez” a Excalibur e perder seus poderes com ela. Passaram tempo apresentando personagens que são um pouco indiferentes e apressaram tanto em histórias dos principais que serão vistos em outras temporadas, isso faz com que se perca um pouco e de verdade fez muitos se desinteressarem pela série (isso e o combo do CGI).
Bem agora temos que esperar um próxima temporada. Acho que ainda estão descobrindo se focam em ser um drama adolescente ou uma fantasia mais séria. Por enquanto, achei bacana tentar trazer pela nova perspectiva e colocar vários elementos e símbolos mitológicos que dão gosto de conhecer mais a história. Sem contar com o Merlin (eterno Floki), que fez muitos assistirem por sua causa.
Se joguem no ar e flutuem.